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Mulheres que contam suas histórias: A potência das narrativas femininas




A ideia inicial era escrever um texto sobre a potência das narrativas de mulheres. Eu já tinha tudo preparado. Na minha cabeça, o roteiro estava pronto: falar sobre silenciamento; talvez discutir um pouco sobre essa falácia de que existe uma literatura “feminina” (e de que ela trataria de temas menos importantes); mencionar as inglesas, falar das Brontë e do que elas ainda representam, ainda mais porque O morro dos ventos uivantes é o meu livro favorito dessa época – amo-odiar Heathcliff –, e dá até para falar um pouco sobre racismo – sim, porque nosso “malvado favorito” não era exatamente branco, né?


Tudo lindo, tudo esquematizado. Mas a vida real se impõe até mesmo nos rascunhos mais bem elaborados. Comecei a semana atabalhoada (nossa, essa palavra indica data de nascimento avançada): texto de qualificação para escrever, molequinho-mamãe-tô-carente para levar pro colégio e acalentar, mãe-rainha para pedir e dar colo, leituras imprescindíveis para completar, viagem para a Festa Literária Internacional da Mantiqueira (Flima) para organizar…


Mas então eu li o texto da Natalia Timerman (“Sofrimentos privados em lugares públicos: Por que postamos nossas redes?”) e ele me trouxe certo alento. É isso: não sou só eu que fico desesperada com um prazo de escrita. Acontece com “todas” nós. E acho que isso explica muita coisa, inclusive sobre a proposta deste texto: o que faz com que tenhamos tanto medo de escrever?


A (muito famosa atualmente) síndrome de impostor(a) atinge muito mais mulheres. E os exemplos são absolutamente palpáveis, principalmente para as escritoras negras: somente depois de quarenta – sim, quarenta! – anos de escrita, Miriam Alves teve sua poesia reunida em uma publicação (Poemas Reunidos: Círculo de Poemas, 2022); D. Conceição Evaristo até hoje não entrou para a ABL; e quantas são as mulheres que receberam o Nobel de Literatura? (Toni Morrison é a única negra).


O sistema – no masculino mesmo – insiste em nos calar, diminuir. Nossos textos e corpos são ridicularizados, violentados, eliminados. O que ganha com isso? O que teme que a gente diga?


Era para ser um texto em terceira pessoa, creio. Sou professora de língua portuguesa, sei quais são as características do gênero informativo. Porém, como diz Grada Kilomba, nós, intelectuais e pensadoras negras, nos identificamos a cada produção. Isso – além de questionar o academicismo cis-hétero-branco-patriarcal – possibilita que nossa voz seja ouvida; que seja possível atribuir rostos, vidas, identidades e existências às histórias que contamos, às epistemologias outras que criamos. Essa é a potência da escrita de mulheres, acredito eu: somos nós por nós. É mais que sororidade; é irmandade, é coletivo-individual que alimenta e dá sustento.


No discurso considerado seminal para o feminismo negro, Sojourner Truth disse: “Se a primeira mulher que Deus fez foi forte o bastante para virar o mundo de cabeça para baixo por sua própria conta, todas estas mulheres juntas aqui devem ser capazes de consertá-lo, colocando-o do jeito certo novamente!”.

É isso: “agora o lixo vai falar, e numa boa!” (Lélia Gonzalez, 2018).

Vamo, galera! Vamos, mulheres!



1. MULHERES que acham que não estão à altura. É a ‘síndrome da impostora’. El País, 13 mar. 2021. Disponível em: https://brasil.elpais.com/cultura/2021-03-13/mulheres-que-acham-que-nao-estao-a-altura-e-a-sindrome-da-impostora.html. Acesso em: ago. 2022.








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