Em setembro de 2008, eu larguei o crachá do Valor Econômico e me tornei editora de livros. Desde então, são muitos anos e muitas histórias, mas sempre a mesma sensação: não consigo ser outra coisa. Eu tentei fugir, voltar pro jornalismo, ser ghost writer. Teve época que eu até pensei em voltar a ser professora de inglês. Meus amigos próximos me olhavam com aquela cara de: “vai, tenta aí, boa sorte”. E davam risada toda vez que eu dizia: “esse vai ser o meu último livro. Não dá, não rola mais pra mim”. Até eu voltar explodindo com uma nova paixão: “consegui, ela vai fechar contrato comigo!”.
Os escritores são isso na minha vida: eu me apaixono pelas histórias e construo parcerias que desembocam em livros. E é com eles que eu aprendo sobre mim mesma e crio coragem para me lançar junto nesse processo sem volta. Escrever um livro, para um escritor, não é uma escolha. É da ordem do incontornável. Criar uma editora – um sonho que cultivei desde 2013 – nunca foi uma opção. Aconteceria de qualquer maneira, mesmo com pessoas próximas que entendem de negócios me dizendo: “Tai, tem certeza? Olha só esse business plan. Se a conta não fecha nem numa planilha de excel, como isso pode dar certo?”. Um dia, meu pai, economista, me disse: “Desse jeito não dá! Coloca o dinheiro num fundo de investimento que é melhor”.
Mas, aqui estamos. Como se o desatino de ter um selo não fosse o suficiente, eu criei dois: a Claraboia (nosso selo de escritoras mulheres) e o Paraquedas (nosso selo de publicação assistida). Tudo de forma independente, num contexto de quase hiato democrático e de absoluto ódio pelos livros.
Mas, apesar de todos os dissabores do nosso Brasil (tá puxado demais, né?), começar esta coluna de crônicas em agosto tem um gostinho muito especial. Neste mês, vamos lançar dois livros que são, para mim, a conjunção astral do que precisamos neste momento: potentes, politicamente engajados e bem escritos. Mãe ou Eu também não gozei (Claraboia), da escritora e atriz Letícia Bassit, é um urro contra o patriarcado. E Cloroquination: Como o Brasil se tornou o país da Cloroquina e de outras falsas curas para a covid-19 (Paraquedas), da jornalista Chloé Pinheiro e do farmacêutico Flavio Emery, é um grito feito de ciência e de jornalismo que mapeia e historiciza dois anos de pandemia, de desgoverno e de um projeto proposital que culminou na morte desnecessária de milhares de brasileiros.
São nesses livros – assim como em outros títulos de ambos os selos – em que eu rezo meu terço e boto minha fé. É junto deles que eu quero estar: ao lado de escritores e projetos que acreditam na potência da vida e da construção coletiva. Para o neoliberalismo, tudo isso é de uma breguice sem fim. Para mim, é o que eu chamo de vida.
E quanto mais gente nessa jornada, mais potente ela se torna. Então, deixo aqui dois convites muito especiais:
O lançamento de Mãe ou Eu também não gozei será dia 7 de agosto, domingo, na Casa das Rosas, em São Paulo.
A pré-venda (com desconto especial) do Cloroquination começa dia 15 de agosto no nosso site, e o lançamento será dia 15 de setembro na Tapera Taperá, também em São Paulo.
Estamos nessa contigo, Tainã. Que o paraquedas é feito a muitas mãos, verbos-tecidos e afetos.
Que delícia te ler. E caminhar contigo